Podemos definir plantas daninhas como sendo aquelas que crescem no lugar errado e na hora errada. São conhecidas 30.000 espécies dessas plantas competindo com as culturas de interesse agrícola por nutrientes, espaço, água e luz solar. Sua ameaça à produção pode reduzir em mais de 30 % a produtividade das lavouras (Oerke, 2006), podendo chegar, nos casos em que seu controle não é feito, a mais de 90 % de perda. Além dos efeitos diretos na cultura principal, como interferência (competição e alelopatia combinadas) e consequente perda de produtividade, tais plantas também apresentam efeitos indiretos, como aumento do custo de produção, entraves à colheita, dificultando a sua operação, e depreciação da qualidade do produto, ao servir de hospedeiros para pragas e doenças.
O desafio das plantas daninhas acompanha a atividade agrícola desde o seu início, em que o controle dessa ameaça era feito apenas por meio do preparo do solo e da sua remoção manual. O primeiro conceito de planta daninha surgiu na antiguidade, quando o homem iniciou as atividades agrícolas e selecionou as plantas consideradas úteis (plantas cultivadas) daquelas consideradas inúteis (plantas invasoras). Hoje em dia, as plantas daninhas abrangem todas as plantas que interferem de forma persistente no crescimento dos cultivos, sendo, portanto, consideradas indesejáveis. Elas têm a capacidade de produzir sementes viáveis em abundância, com diversos tipos de dispersão, e apresentam resistência a pragas e doenças. Geralmente crescem em condições adversas, como ambientes secos ou úmidos, em baixas ou altas temperaturas e diversos tipos de solo.
O uso de herbicidas para o controle químico de plantas daninhas facilitou significativamente a prática agrícola, devido a sua praticidade, economia e eficiência, e ao mesmo tempo permitiu reduzir o preparo do solo, melhorando a sua estrutura e capacidade de retenção de matéria orgânica e umidade. No entanto, o uso indevido de herbicidas como única estratégia de controle traz consigo o problema das plantas daninhas resistentes a tais compostos, reforçando a importância do atendimento às boas práticas para o manejo integrado de pragas.
A ocorrência de plantas daninhas resistentes a herbicidas sempre estará associada a mudanças genéticas na população em função da seleção ocasionada pela aplicação do herbicida. As populações de plantas daninhas são dinâmicas e possuem variabilidade genética: diante da aplicação constante do mesmo herbicida ou de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, serão selecionados aqueles indivíduos que apresentem algum grau de resistência. Essas plantas resistentes sobreviverão, aumentando sua frequência na população nos anos subsequentes.
A resistência de plantas daninhas é a capacidade de um biótipo em sobreviver e se reproduzir após a aplicação de uma dose de herbicida que normalmente controlaria uma população normal dessa espécie. Já a tolerância é dada à capacidade das plantas de suportar as doses recomendadas de herbicidas que controlam outras espécies sem sofrer alterações em seu crescimento e/ou desenvolvimento.
Cerca de 25 % das plantas daninhas classificadas como mais nocivas já são resistentes a um ou mais modos de ação dos herbicidas disponíveis no mercado. Por isso, é necessário que os produtores diversifiquem suas estratégias de controle para evitar o surgimento de novos casos de resistência, ajudem a reduzir o banco de sementes de plantas daninhas resistentes no campo e preservem a eficácia das soluções de controle disponíveis.
Em busca de novos mecanismos de ação
Plantas daninhas resistentes são um desafio global e crescente. Elas podem apresentar resistência simples, que só ocorre com um herbicida; resistência cruzada, que ocorre para vários herbicidas com o mesmo mecanismo de ação; e resistência múltipla, que ocorre para herbicidas de diferentes mecanismos de ação, ou seja, herbicidas que agem em diferentes processos bioquímicos e celulares da planta-alvo. Portanto, não é necessário apenas encontrar novos herbicidas, mas também novos mecanismos de ação e esta foi uma tarefa especialmente desafiadora durante 30 anos. Até que, em 2020, a Bayer anunciou o desenvolvimento de um herbicida com um potencial indescritível para o controle de plantas daninhas e um mecanismo de ação completamente novo.
E apesar desse lançamento, a Bayer continua investindo extensivamente em pesquisas para descobrir novos mecanismos de ação eficazes, mecanismos de resistência de plantas daninhas e métodos de controles alternativos, até porque, em média, apenas 1 de 160.000 compostos químicos selecionados chega à comercialização, e uma descoberta dessa natureza leva cerca de 11 anos.
A divisão Crop Science da Bayer, tem uma longa história de sucesso na descoberta de novas moléculas herbicidas, bem como na sua comercialização. A Bayer é uma das poucas empresas no mundo que tenta cobrir todo o espectro de tecnologias relacionadas à tolerância a herbicidas, incluindo soluções convencionais e geneticamente modificadas, bem como aspectos de proteção de cultivos. Desde o início de suas atividades em 1960, a Bayer Crop Science lançou 52 princípios ativos no mundo, incluindo indaziflam em 2010 e triafamona em 2014, representando em média um ingrediente ativo por ano.
O manejo integrado garante sustentabilidade
O manejo integrado utiliza várias ferramentas para o controle de plantas daninhas, ajudando os produtores a conservar água e minimizar a erosão do solo. Essas ferramentas envolvem o uso e rotação de herbicidas e seus modos de ação, acompanhados pela diversidade de medidas não químicas, como rotação de cultivos, semear na época recomendada e utilizar densidade de semeadura de acordo com o recomendado por região.
O manejo integrado de plantas daninhas é parte, junto com o manejo integrado de pragas e doenças, de uma abordagem holística da agricultura sustentável. O objetivo das estratégias de manejo integrado de plantas daninhas é reduzir a pressão de plantas invasoras e mantê-las dentro de níveis aceitáveis, permitindo que os herbicidas funcionem adequadamente e, assim, reduzindo a pressão de seleção para resistência.
Algumas recomendações para o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD) são:
- Preventivo: cuidados na aquisição de sementes (a aquisição de sementes de espécies não confiáveis pode introduzir espécies exóticas de plantas daninhas); manter as áreas próximas a lavoura livres de infestantes; limpeza de máquinas e equipamentos como semeadoras e colheitadeiras.
- Cultural: conhecer detalhadamente as características da cultura que está sendo instalada e das plantas daninhas envolvidas, auxilia a escolher as práticas culturais que favorecem o crescimento rápido e vigoroso da cultura e afetam negativamente as daninhas. Alguns exemplos são: selecionar culturas com maior produção de massa e de rápido crescimento inicial; escolher as culturas em rotação, considerar os efeitos alelopáticos positivos e evitar as épocas de pousio.
- Rotacionar culturas: a rotação de culturas permite incorporar uma maior variedade de herbicidas e métodos culturais, oferecendo benefícios de produtividade, melhorando os níveis de nutrientes do solo e interrompendo os ciclos de pragas nas lavouras.
- Utilizar culturas de cobertura: o uso de culturas de cobertura é uma forma de evitar que as plantas daninhas se enraízem no campo, além de melhorar a saúde do solo, reduzir a erosão, melhorar a fertilidade do solo e/ou reduzir a sua compactação. Essas culturas afetam as plantas daninhas da mesma forma que as daninhas afetam as culturas de interesse agrícola, competindo por nutrientes, água e luz solar. Além disso, com o tempo, a de cultura de cobertura tem o potencial de aumentar a matéria orgânica do solo, sua umidade e capacidade de retenção de nutrientes.
- Plantio direto: o plantio diretoconsiste no processo de semeadura em solo não revolvido, no qual a semente é colocada em sulcos ou covas, com largura e profundidade suficientes para a adequada cobertura e contato das sementes com a terra. Esse método associado à presença de cobertura do solo, apresenta vantagem competitiva à cultura, uma vez que, pelo menor revolvimento do solo e pelo efeito físico/alelopático da cobertura, a emergência de plantas daninhas é dificultada.
- Usar herbicidas pré-emergentes: o tratamento com herbicidas residuais (ou pré-emergentes) deve ser a base do manejo químico de plantas daninhas, a ser posteriormente complementado por herbicidas pós-emergentes. Herbicidas residuais são produtos aplicados no solo antes que ocorra a emergência das plantas daninhas. Eles devem persistir por um determinado tempo na camada de solo onde se localiza a maior porcentagem de sementes de plantas daninhas, conhecido como banco de sementes do solo. Com isso, os herbicidas pré-emergentes dificultam a germinação destas espécies que estão neste banco de sementes do solo fazendo com que a cultura que o agricultor está cultivando se desenvolva com vantagens competitivas sobre as plantas daninhas. Herbicida pós-emergente é aquele aplicado sobre as folhas das plantas daninhas (parte aérea) de forma seletiva sobre as culturas ou no pré-plantio das culturas, onde o seu efeito (tempo necessário para controlar a infestante 100 %) vai depender do tipo de produto aplicado.
- Rotacionar os modos de ação herbicidas: para cada planta daninha devemos alternar ou combinar herbicidas com diferentes modos de ação, visando diversificar as estratégias de controle para evitar o surgimento de novos casos de resistência.
- Monitorar os talhões: essa medida serve para verificar o controle efetivo e reagir prontamente aos escapes, não deixando as plantas daninhas produzirem sementes e se espalharem no campo.
- Avaliar outras opções de controle: como por exemplo, aplicações sequenciais em plantas daninhas de difícil controle.
Exemplo esquemático de possibilidades do manejo integrado de plantas daninhas (MIPD). Fonte: Gilmar Picoli (Especialista em resistência de plantas daninhas a herbicidas – Regulamentação Bayer)
“É necessário manejar as plantas daninhas durante todo o ano pensando sempre no SISTEMA como um todo e não apenas uma única safra”.
— Gilmar Picoli, Especialista em Resistência de Plantas Daninhas a Herbicidas, RM, Regulamentação Bayer.
Algumas dessas estratégias, como rotação de culturas, já são práticas agrícolas conhecidas e tradicionalmente utilizadas; entretanto, o manejo integrado de plantas daninhas é uma área de pesquisa viva, que se beneficia do conhecimento e dos dados contribuídos por estudos agronômicos, pesquisas em fisiologia de plantas daninhas e a bioquímica dos mecanismos de resistência.
O Centro de Competência em Resistência de Plantas Daninhas, (Weed Resistance Competence Center, ou WRCC), da Bayer, em Frankfurt, está envolvido na busca e descoberta de mecanismos de resistência, testando e desenvolvendo novos conceitos e ferramentas para o manejo de plantas daninhas resistentes, bem como comunicando e compartilhando conhecimento e soluções da Bayer. Atualmente, o foco do centro está em projetos de resistência em muitos países da Europa, América do Norte e do Sul, Austrália, África do Sul e na região da Ásia-Pacífico. Nos Estados Unidos, o WRCC coopera e apoia cientistas que investigam a genética populacional e os mecanismos de resistência em Amaranthus palmeri, e na Austrália, resistência metabólica em Lolium spp. (azevém). Este centro também contribui para o desenvolvimento sustentável da agricultura, oferecendo aos produtores informações e soluções locais para auxiliá-los no manejo da resistência no campo. Existem outros laboratórios de monitoramento de resistência a fungicidas, inseticidas e herbicidas no Brasil.
Há muito trabalho pela frente e o desafio é grande demais para ser aceito por uma única empresa. Por esse motivo, a Bayer busca maximizar sua capacidade de cobrir mais áreas que requerem pesquisa e desenvolvimento por meio de parcerias com os principais cientistas do mundo. O objetivo é alcançar uma produção sustentável de alimentos, com foco no manejo, por meio de uma combinação de medidas físicas, culturais, biológicas e químicas que sejam viáveis, socialmente aceitáveis e ambientalmente corretas.
Bibliografia
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Recursos
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