O surgimento da agricultura, há mais de 10.000 anos, está intimamente ligado à seleção de plantas. Embora o melhoramento tradicional de plantas tenha sido crucial para garantir a diversidade genética e melhorar as variedades de espécies domesticadas, a modificação genética pode introduzir novas características agronômicas que não ocorreriam naturalmente. Assim, a modificação genética tem sido uma importante ferramenta da biotecnologia moderna para a introdução específica de características desejadas em culturas agrícolas, tais como proteção contra insetos e tolerância a herbicidas.
As culturas geneticamente modificadas (GM) são de fato creditadas por proteger o rendimento de grãos das culturas sem comprometer a segurança ambiental/alimentar, trazendo benefícios associados à redução da liberação de gases de efeito estufa, dado ao sequestro do carbono através de práticas conservacionistas.
O uso do melhoramento convencional e biotecnologia moderna na geração de plantas geneticamente modificadas (GM) com dois ou mais eventos resulta em uma maneira conveniente de combinar características distintas para melhorar a flexibilidade, desempenho e produtividade.
A liberação comercial de culturas GM envolve um investimento considerável de recursos (tempo e dinheiro) e pacotes de dados robustos. Da descoberta de um evento à aprovação comercial de um único produto, há uma estimativa média de que as empresas invistam aproximadamente US$ 136 milhões e 13 anos de pesquisa e geração de dados. Vários estudos prévios à comercialização são necessários para atender requisitos específicos das legislações de biossegurança em diferentes países, onde os dados gerados são apresentados às agências regulatórias para avaliação de risco e aprovação para que um produto chegue ao mercado.
Como parte da avaliação de risco ambiental para avaliar a biossegurança de plantas GM, a agência regulatória brasileira CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) solicita testes a campo para entendimento da segurança ambiental das novas sementes que serão comercializadas. O time de Product Safety (Segurança do Produto) da Bayer realiza os testes em seis localidades no Brasil, sendo elas as estações de Não-Me-Toque (RS), Rolândia (PR), Santa Cruz das Palmeiras (SP), Cachoeira Dourada (MG), Sorriso (MT) e Luís Eduardo Magalhães (BA). Estas seis localidades representam condições distintas de clima, solo e altitude, proporcionando a geração de dados de forma robusta.
“O entendimento da segurança das plantas GM em diferentes condições edafoclimáticas é a base da avaliação de risco ambiental. O time de Product Safety avalia os novos eventos de biotecnologia em seis estações experimentais no Brasil e suporta a geração de dados para submissões comerciais, contribuindo para o pipeline futuro de sementes da Bayer.”
— Hallison Vertuan, Seeds & Traits Safety Manager Brazil na Bayer Crop Science
Referente aos testes a campo, são avaliadas as características agronômicas e fenotípicas, onde são coletados por exemplo o estande, a altura de planta, o acamamento, peso de 100 grãos e rendimento de grãos; abundância de organismos não alvo (para entendimento das relações interespecíficas da planta GM frente aos predadores, parasitódes e fitófagos não alvo) e; interações ambientais (resposta do evento a estresses no ambiente). A coleta destes dados é realizada para o novo evento de biotecnologia (designado ‘material teste’), para o material convencional de mesmo background genético (designado ‘material controle’) e para referências comerciais cultivadas em cada região do país (designadas ‘referências’). A comparação estatística é realizada entre o material teste e controle convencional e gerado um intervalo das referências comerciais, as quais representam o intervalo de variabilidade de cada atributo analisado. Também, é necessário o entendimento do desempenho da nova tecnologia. Por exemplo, se um evento expressa proteínas que conferem proteção contra insetos, faz-se necessária a geração de dados a campo e/ou em casa de vegetação para verificação da eficácia do novo evento quanto a essa característica.
Além de estudos a campo, tecidos vegetais são coletados para realização de estudos em laboratório e casa de vegetação para complementar a avaliação de segurança, em que protocolos de análise de viabilidade e morfologia de pólen, germinação de sementes e potencial de produção de plantas voluntárias e degradação de palha após a colheita são desenvolvidos. As Figuras 1 e 2 representam os estudos desenvolvidos a campo e em casa de vegetação, respectivamente.
Desta forma, trabalhando com seis localidades, vários anos de experimentação e diversos parâmetros sendo avaliados, a Bayer tem demonstrado o peso da evidência em que as culturas geneticamente modificadas são tão seguras quanto as culturas convencionais, não demonstrando risco ambiental e alimentar.
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